sábado, 14 de janeiro de 2006

Mais uma forma de ganhar dinheiro

A nossa situação está a tornar-se caótica.
Haja quem consiga explicações para tamanhas atrocidades.

Um cidadão português dois dias depois de ter assinado na Conservatória do Registo Civil o divórcio, porque ainda não tinha o estado civil alterado no seu bilhete de identidade pediu à, já, ex-mulher que o acompanhasse ao banco a fim de assinar uma letra.
A letra estava associada a uma conta à ordem cujo titular é a sociedade unipessoal por quotas que o ex-marido constituiu poucos anos antes.
A ex-mulher acedeu ao pedido: não era titular da conta, já estava divorciada, não iria usufruir de qualquer quantia e confiou que a letra seria paga atempadamente.
Passados poucos meses o cidadão português informou a ex-mulher que a letra estava paga.

Para espanto desta ex-mulher, numa madrugada, recebe um telefonema do cidadão português, que disse encontrar-se fora de Portugal, a informá-la que, caso fosse contactada pelo banco com o intuito de saberem do ex-marido ou para que a letra fosse paga, não se preocupasse. Bastaria fazer-lhe um telefonema e, rapidamente, o dinheiro estaria na posse dela a fim a dívida.
Compreensivamente, a ex-mulher ficou atónita com a informação.

Na primeira oportunidade dirigiu-se à agência do banco e indagou quanto à sua responsabilidade naquela dívida.

Ficou a saber que era avalista numa letra do ex-marido e que, por a conta da tal sociedade unipessoal pertencer ao mesmo banco onde tinham uma outra conta solidária ainda activa mas sem saldo, esta não poderia ser fechada ou movimentada. O controlo de todas as contas seria obrigatório.

Dominada pela revolta tenta o contacto telefónico com o ex-marido através dos quatro ou cinco números de que ele é titular e perante o insucesso deixa mensagem na caixa de correio.
O relatório da mensagem é positivo, foi recebida.
Espera que o telefone toque.
Quando percebeu que não ia atender qualquer chamada do ex-marido tentou de novo contactá-lo. Ficou em pânico. Qualquer dos números que tinha utilizado tinha a mesma advertência: “O número de telefone para o qual ligou não se encontra atribuído”.

Naquele momento, aquela ex-mulher estava com uma filha para criar e com uma dívida que não tinha como pagar.

Mas como estamos em território onde a aldrabice e corrupção são consideradas meias virtudes, o melhor ainda estava para vir.

Ora, o ex-marido tinha dito, se se lembram, que estava fora de Portugal, estaria no norte da Europa, segundo ele. E disse também que como os negócios não lhe estavam a correr muito bem talvez ainda fosse ao Brasil, onde tinha familiares.

Após tanta informação a ex-mulher concluiu que perante as dificuldades que ele teria que enfrentar, com certeza, não voltaria a Portugal tão depressa.

Passaram dois ou três dias em que ela nem sequer dormiu, amaldiçoando aqueles anos que tinha desperdiçado ao lado de alguém irresponsável e insensível.

Quando tocou o telefone, uma amiga diz-lhe que viu a sua ex-sogra e o seu ex-marido a caminho do Cartório Notarial onde iriam assinar a escritura de compra e venda de um terreno pago por ele mas que ficaria em nome da mãe.
Ficou sem palavras.

De imediato, telefonou para a ex-sogra sem revelar os pormenores e perguntou se tinha algum contacto do ex-marido e aquela, a sangue-frio, respondeu que não e que já há muito tempo, talvez semanas, não falava com ele.

Consumida pela fúria constatou que caiu numa armadilha. Ele já a tinha avisado que se a tal sociedade não resultasse abriria falência e ficaria tudo resolvido.

O cidadão português continua a viver bem a vida. O dinheiro existe.

Caminhamos para o caos.
Já não há honra, orgulho ou dignidade.

A sociedade, e sobretudo quem a representa e dirige, pretende dissipar os valores seculares de gente trabalhadora e honesta.

Hoje os valentes são os corruptos, os virtuosos são os espertos.